“— O café esfriou.
— Você também.
— Pessoas mudam.
— Cafés esfriam.
— Vai continuar retrucando?
— Vai continuar falando?
(Silêncio)
— Vamos pra minha casa.
— Eu tenho casa.
— Calma, eu só quero te fazer um café.
— Também já tenho.
— Você disse que esfriou.
— E daí?
— Joga fora.
— Também vai me jogar fora?
— Você não é café.
— Mas esfriei.
— Eu te esquento.
— Tenho cobertor.
— Ótimo, podemos dividir.
— Me deixa em paz.
— Não deixo.
— Por que?
— Gosto de te irritar.
— Eu percebi.
— Me dá um beijo.
— Não dou.
— Por que?
— Sou fria.
— Vai continuar falando disso?
— Do que quer falar?
— De nós dois.
— Não existe “nós dois”.
— Mas existe eu e você.
— Eu e você. Não eu com você.
— Por que não?
— Não posso.
— Comprometida?
— Não.
— Então você pode.
— Não quero.
— Você é linda.
— Fofura não me conquista.
— Me beija.
— Te beijo. Vai embora?
— Não vou.
— Por que?
— Não vou te jogar fora.
— Mas eu sou fria.
— O que é que tem?
— Você me mandou jogar o café fora porque estava frio.
— E, de novo: você não é café.”
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